quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sexo, Depravação e Culpa: breve análise da subjetvidade


Nós seres humanos somos um emaranhado incomensurável de sensações e emoções nas quais no dia a dia não temos domínio. Existe uma longa discussão dentro da história da Filosofia, de valor ético, a respeito daquilo que nos torna, visto em relação ao estado superior de autocontrole, tão mesquinhos e devassos. A maior arauta dessa perspectiva é a doutrina Cristã, que orienta a prática do SEXO para a pura e simples reprodução, sem considerar a dimensão do prazer que é a satisfação objetiva do corpo. Na Idade Média a Filosofia grega fora chamada de Filosofia pagã, por que para estes o sexo estava muito além da pura e simples reprodução. A própria ideologia contida na constituição da mitologia, onde os deuses, despreocupados de qualquer continência sexual, esbanjavam toda sua beleza e harmonia corporal, produto direto de veneração. Essa lógica se justifica ao olharmos em como os deuses gregos eram representados tanto na literatura como na escultura, seus corpos nus, devidamente equilibrados demonstram como se dava esse processo de mistificação e supervalorização sexual. Os deuses de Olimpo eram, sobretudo, seres altamente sedutores. A importância dessa constituição cultural se revelava nas práticas ritualísticas dessa época, como por exemplo, a orgia. A orgia era uma espécie de ritual de adoração aos deuses, sobretudo ao deus Eros e Baco. No livro “O banquete” o filósofo Platão nos trás um bom exemplo da presença iminente da orgia no cotidiano do mundo Grego. A sistematização de toda essa forma de ver o mundo e de se propagar a cultura teve sua culminância dentro da teoria hedonista de Epicuro o princípio fundamental do prazer. O limiar da idade média reduziu e condenou toda essa forma de cultura á pratica pagã. A noção que se tinha de corpo, o corpo sexuado, o corpo inclinado às vicissitudes do prazer, foi substituída pelo princípio da abnegação e da continência em relação ao prazer, o prazer passa a ser, a partir desse momento, uma negação da nova subjetividade espiritual cuja cultura medieval engendrou no espírito humano. Tratava-se de uma condição que remetia o homem a um posicionamento diante de Deus. Quanto mais afastado dos vícios que o prazer proporciona ao espírito, mais próximo ele se encontra de Deus. Enquanto que para o grego o gozo estava no desfrute corporal, para o homem medieval o gozo devia ser espiritual, como podemos refletir acerca da história de santa Teresa d'Ávila, trata-se, pois, de criar uma mentalidade de que o corpo nos torna propenso ao mal, nos afastamento da iluminação divina, cujas consequências seriam a destruição total da alma. O inferno, numa análise estrutural, é uma condição que está além da orgia grega, pois se trata de uma condição onde seremos submetidos a torturas infinitas, como a redução da nossa condição a objetos sem substancia alguma, substancia essa deteriorada pela concupiscência; em outras palavras, por viver uma vida pecaminosa vivendo dos prazeres, será este indivíduo o objeto de prazer do ser maligno, no inferno, todo o prazer vivido converte-se, portanto em dor. Essa depravação do desejo, a transformação do indivíduo em um objeto de prazer sádico é algo que nem mesmo a igreja se desvencilhou , basta olharmos nos métodos de torturas utilizados para coagir uns e outros que ousavam olhar para outros horizontes. Com efeito, não se trata de conceituarmos aqui o sexo como o ato da penetração, da excitação e da satisfação, mas sim que se trata de uma forma de poder exercido pelas camadas dominantes sobre o corpo. E qual é a condição atual da relação sexual na contemporaneidade? Assistimos um crescimento vertiginoso da indústria pornô, acompanhado da indústria de reality shows e danças sensuais, como um atendimento a nossa necessidade sádica de reduzirmos uns aos outros a meros objetos fugazes de prazer. A prática sexual como rito ou como pecado são simplesmente temperos exóticos que estão a serviço do espetáculo libertino que incitamos em nossas mentes. Sexo pelo sexo, trouxemos para fora toda neutralidade que sempre existiu nesse ato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário