É
difícil buscar um ponto de partida para tratar a problemática da relação entre
a família e o processo de aprendizagem, parece ser, ainda que obscuramente, uma
relação cheia de entraves e mágoas ou dor, arrependimento, culpa, pior ainda,
raiva; de modo que essa estrutura de ambiente dificilmente se incorpora no
processo de aprendizagem. Essa reflexão se justifica na triste realidade das
nossas escolas públicas. Uma das características mais genuínas nas salas de
aula em muitas escolas públicas é a vontade desinteressada dos alunos mediante
os conteúdos que são ministrados a eles, pelos seus professores e seus
respectivos giz, transpondo toda contradição daquilo que a escola institui como
importante na representação inerte sem possibilidades de promover uma
transformação.
Quando paramos para analisar a infância como fonte de características como
determinantes para todos os processos que decorrerão, vemos que não se trata de
um momento onde as fantasias predominam na realidade, o ponto de partida para a
compreensão na perspectiva da psicanálise é exatamente a de que a realidade
inspira a fantasia. Quando a realidade está associada ao período onde nosso
centro de convívio nos fornece a iniciativa, nos fornecem condições de
possibilidades para o desenvolvimento, assim estabelecendo verdadeiros laços de
espontaneidade e autonomia. Ocorre que, no nosso contexto o conceito Família não
apresenta uma universalidade, pois vê-se as dissociações nos mais variados
casos, onde o modelo real de família foge dos aspectos padrões do modelo pelo
qual – e paradoxalmente- a escola usa dentro dos regimentos e atribuições. A
questão é que da mesma maneira que a escola não vem sendo um ambiente propício
para a aprendizagem, a família como o primeiro local de aprendizagem
fatidicamente vem desempenhando uma certa fragilidade, seja em sua formação,
seja na compreensão da importância que deve ser dada à fase da infância. A
criança atravessa um intenso questionamento, curiosidade, ansiedade, e até
mesmo uma idolatria pelo mundo adulto. Toda essa dimensão estrutural que
envolve o desenvolvimento da mente, o comportamento, a personalidade, não se
trata de um estado harmônico e tranquilo, mas sim um estado conflitante, gera
intensas negações.
A
ambivalência do tudo e o nada na infância decorrem do fato de atravessarmos os
extremos entre a idolatria familiar ao niilismo adolescente.
Érick
Érickson define o processo do desenvolvimento da identidade como a resolução de
conflitos aos quais se apresentam na sua realidade empírica enquanto vai se
desenvolvendo. Esse processo é interessante pois trata o desenvolvimento sob o
ponto de vista de um circuito em série onde cada estágio complemente e
justifica o anterior, promovendo habilidades na qual proporcionará um
desenvolvimento pleno, com consequências positivas.
A
família é algo que precisa ser pensada em minúcias para ser concebida de uma
maneira ideal, acredito que para criamos uma realidade mais sólida precisamos
nos desvencilharmos de certas idealizações, principalmente as que estão
associadas a velhas ideologias que demonstram uma realidade impensada sem a
devida análise que é cabida. No texto da Cátia Oliver Mello “A família como
espaço de aprendizagem: o ponto de vista do atendimento individual” a autora
expõe os consequência das lacunas decorrentes de falhas nos processos de
identidade de uma maneira interessante. Podemos notar no cotidiano escolar que
o aluno apresenta uma série de impressões e comportamentos de fuga, repúdio ao
ato violento e autoritário do aprender, consequência da relutância entre a
confiança básica versus desconfiança, nesse sentido existe a extrema urgência
de se experimentar o novo, o conhecimento novo, as novas sensações, quando este
conflito se encontra mal resolvido o conhecimento do novo torna-se invasivo,
ocasionando desinteresse por parte do aluno e um conflito iminente com a escola
e a família, que não obstante ao conflito que dificulta a realização do
esperado, não aceitam tal comportamento, uma relação improdutiva. É necessário
experimentar e vivenciar as novas situações para que não haja limitações na
aprendizagem, para isso a pessoa precisa estar aberta, como um grande rio, benção
e perigo para os ribeirinhos...
Outra
característica que o aprendente precisa lidar, é com a vergonha e o medo de
errar, como dizia o poeta Paulo Leminski “Herrar é Umano”. Devemos apoiar e
valorizar a inciativa, mesmo que errônea, dos nossos estudantes, pois para
aprender é necessário tentar. É a noção que temos de que para se chegar ao
alto, não é necessário saber voar, ou fazer magica, flutuar: basta ter uma
escada e subir um degrau de cada vez. Outra resultante é a necessidade do
espírito de sociabilidade, fruto do contato direto com a presença do Outro, e
no entendimento de igualdade, de que faz parte de um “ grupo maior”...
Que
falta faz essa virtude ao espírito? Surgida de uma má resolução do conflito
iniciativa versus inferioridade, desperta o sentimento de desesperança de
incredulidade de si e das suas potencialidades, acompanha a convicção de recusa
ao estudo, não se importa em ir bem e aprender, uma fase de extrema
desidealização da vida adulta, e seguindo a lógica de Érickson e Meltzer, na
própria convicção de os adultos nada sabem, e que, portanto o conhecimento não
é importante, na verdade não só o conhecimento, como a sociedade e os valores
sociais em si.
Como podemos perceber, o desencadeamento dos conflitos no
processo de obtenção do conhecimento necessita de uma reunião de condições
individuais no qual precisamos ter um olhar mais consciente com os processos da
mente, devemos analisar o caso da aprendizagem não como algo que está perdido
na desorganização de informações nas quais somos submetidos, mas algo que
necessita ser priorizado e reposicionado dentro das que instituições
educacionais, e é essa a necessidade da teoria no nosso mundo, é a abstração da
teoria que viabiliza uma outra visão de realidade.
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