sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A infância não é brincadeira de criança: o ocaso da família


É difícil buscar um ponto de partida para tratar a problemática da relação entre a família e o processo de aprendizagem, parece ser, ainda que obscuramente, uma relação cheia de entraves e mágoas ou dor, arrependimento, culpa, pior ainda, raiva; de modo que essa estrutura de ambiente dificilmente se incorpora no processo de aprendizagem. Essa reflexão se justifica na triste realidade das nossas escolas públicas. Uma das características mais genuínas nas salas de aula em muitas escolas públicas é a vontade desinteressada dos alunos mediante os conteúdos que são ministrados a eles, pelos seus professores e seus respectivos giz, transpondo toda contradição daquilo que a escola institui como importante na representação inerte sem possibilidades de promover uma transformação.
 Quando paramos para analisar a  infância como fonte de características como determinantes para todos os processos que decorrerão, vemos que não se trata de um momento onde as fantasias predominam na realidade, o ponto de partida para a compreensão na perspectiva da psicanálise é exatamente a de que a realidade inspira a fantasia. Quando a realidade está associada ao período onde nosso centro de convívio nos fornece a iniciativa, nos fornecem condições de possibilidades para o desenvolvimento, assim estabelecendo verdadeiros laços de espontaneidade e autonomia. Ocorre que, no nosso contexto o conceito Família não apresenta uma universalidade, pois vê-se as dissociações nos mais variados casos, onde o modelo real de família foge dos aspectos padrões do modelo pelo qual – e paradoxalmente- a escola usa dentro dos regimentos e atribuições. A questão é que da mesma maneira que a escola não vem sendo um ambiente propício para a aprendizagem, a família como o primeiro local de aprendizagem fatidicamente vem desempenhando uma certa fragilidade, seja em sua formação, seja na compreensão da importância que deve ser dada à fase da infância. A criança atravessa um intenso questionamento, curiosidade, ansiedade, e até mesmo uma idolatria pelo mundo adulto. Toda essa dimensão estrutural que envolve o desenvolvimento da mente, o comportamento, a personalidade, não se trata de um estado harmônico e tranquilo, mas sim um estado conflitante, gera intensas negações.
A ambivalência do tudo e o nada na infância decorrem do fato de atravessarmos os extremos entre a idolatria familiar ao niilismo adolescente.
Érick Érickson define o processo do desenvolvimento da identidade como a resolução de conflitos aos quais se apresentam na sua realidade empírica enquanto vai se desenvolvendo. Esse processo é interessante pois trata o desenvolvimento sob o ponto de vista de um circuito em série onde cada estágio complemente e justifica o anterior, promovendo habilidades na qual proporcionará um desenvolvimento pleno, com consequências positivas.
A família é algo que precisa ser pensada em minúcias para ser concebida de uma maneira ideal, acredito que para criamos uma realidade mais sólida precisamos nos desvencilharmos de certas idealizações, principalmente as que estão associadas a velhas ideologias que demonstram uma realidade impensada sem a devida análise que é cabida. No texto da Cátia Oliver Mello “A família como espaço de aprendizagem: o ponto de vista do atendimento individual” a autora expõe os consequência das lacunas decorrentes de falhas nos processos de identidade de uma maneira interessante. Podemos notar no cotidiano escolar que o aluno apresenta uma série de impressões e comportamentos de fuga, repúdio ao ato violento e autoritário do aprender, consequência da relutância entre a confiança básica versus desconfiança, nesse sentido existe a extrema urgência de se experimentar o novo, o conhecimento novo, as novas sensações, quando este conflito se encontra mal resolvido o conhecimento do novo torna-se invasivo, ocasionando desinteresse por parte do aluno e um conflito iminente com a escola e a família, que não obstante ao conflito que dificulta a realização do esperado, não aceitam tal comportamento, uma relação improdutiva. É necessário experimentar e vivenciar as novas situações para que não haja limitações na aprendizagem, para isso a pessoa precisa estar aberta, como um grande rio, benção e perigo para os ribeirinhos...
Outra característica que o aprendente precisa lidar, é com a vergonha e o medo de errar, como dizia o poeta Paulo Leminski “Herrar é Umano”. Devemos apoiar e valorizar a inciativa, mesmo que errônea, dos nossos estudantes, pois para aprender é necessário tentar. É a noção que temos de que para se chegar ao alto, não é necessário saber voar, ou fazer magica, flutuar: basta ter uma escada e subir um degrau de cada vez. Outra resultante é a necessidade do espírito de sociabilidade, fruto do contato direto com a presença do Outro, e no entendimento de igualdade, de que faz parte de um “ grupo maior”...
Que falta faz essa virtude ao espírito? Surgida de uma má resolução do conflito iniciativa versus inferioridade, desperta o sentimento de desesperança de incredulidade de si e das suas potencialidades, acompanha a convicção de recusa ao estudo, não se importa em ir bem e aprender, uma fase de extrema desidealização da vida adulta, e seguindo a lógica de Érickson e Meltzer, na própria convicção de os adultos nada sabem, e que, portanto o conhecimento não é importante, na verdade não só o conhecimento, como a sociedade e os valores sociais em si.
Como podemos perceber, o desencadeamento dos conflitos no processo de obtenção do conhecimento necessita de uma reunião de condições individuais no qual precisamos ter um olhar mais consciente com os processos da mente, devemos analisar o caso da aprendizagem não como algo que está perdido na desorganização de informações nas quais somos submetidos, mas algo que necessita ser priorizado e reposicionado dentro das que instituições educacionais, e é essa a necessidade da teoria no nosso mundo, é a abstração da teoria que viabiliza uma outra visão de realidade.

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